terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mesmo com a chuva que estragou o feriadão no Rio e com uma vontade enorme de ficar embaixo do cobertor, encarei mais uma sessão com o Dr. Mauricio. Dessa vez, já quase amigos de infância, cheguei com menos vergonha e mais à vontade, mas com mais medo do que ia ter pela frente.

Começamos falando sobre a minha infância, meus pais e família. Contei a ele que fui criada apenas pela minha mãe, o que é quase uma regra na favela, pais largando as casas com os filhos ainda pequenos, muitas vezes por causa de vício em bebidas ou drogas, e as mães tendo que se virar em mil para serem mães e pais ao mesmo tempo e fazendo uma força de dar dó para não deixar faltar nada dentro de casa. Mesmo assim as vezes ainda falta.

Minha mãe era empregada doméstica trabalhava em casa de família e na maioria das vezes quando estava de folga, ainda pegava faxina extra para ganhar mais um dinheiro. E assim, eu e mais dois irmãos fomos criados, um pouco aqui um pouco ali porque minha mãe tinha os filhos das madames da Zona Sul para criar também e aí sobrava pouco tempo para gente. Contei também que logo cedo eu e meus irmãos começamos a trabalhar para também ajudar em casa. A gente estudava de manhã e trabalhava no resto do dia. Meus irmãos vendendo bala no trem e eu tomando conta de um bebê fora da favela.
Bem, isso era o que a gente contava para a minha mãe e o que eu contei para o Dr Mauricio. A verdade é bem diferente.
Meus irmãos começaram a fazer serviços para os meninos da boca como comprar um cigarro, comida, refrigerante, essas coisas. O que não era tão ruim, mas mesmo assim minha mãe não podia nem sonhar porque como ela sempre dizia: quem se mistura com porco, farelo come. Vagabundo pra ela era tudo igual. Enquanto isso eu me misturava com as companhias erradas, mas graças a Deus e muita força de vontade nunca comi os farelos, não.

Depois da consulta me senti mal por não ter falado a verdade para o Dr Mauricio, mesmo porque ele já sabe mais ou menos da minha historia mesmo. Acho que estou tão acostumada a mentir sobre esse assunto que já vai no automático.
Na próxima espero ter coragem para falar toda a verdade.

2 comentários:

  1. Muito bom o seu blog,gostei de vc estar falando de sua vida na favela,mas seja m pouco mais realista,não tenha medo de assustar as pessoas!
    m beijo de sua nova leitora,
    www.acaradapoesia.blogspot.com

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  2. No nosso íntimo, a gente tem medo sim, de ferir o sagrado, p exemplo: o amor da mãe... a gente no íntimo sente que é errado; mas conte sim Dora, pq vc estará ajudando a outras pessoas...

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